terça-feira, 19 de junho de 2012

Conheça a história de Josi Malheiros, gestora nascida na Ilha das Cinzas


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Seu trabalho ajudou a promover o desenvolvimento social da região

Josineide Malheiros recebe o Prêmio FINEP 2011 da Presidente Dilma  (Foto: Divulgação)Josineide Malheiros recebe o Prêmio FINEP 2011
da Presidente Dilma (Foto: Divulgação)
Pelo projeto Manejo Comunitário de Camarão de Água Doce, a Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas da Ilha das Cinzas – ATAIC venceu o Prêmio FINEP Inovação de 2011 na categoria Tecnologia Social. Representante da associação, Josineide Malheiros recebeu o troféu das mãos da presidente Dilma. “Para mim como mulher, amazônica, comunitária e nortista, receber o prêmio e ter contato com a presidenta Dilma significou que temos que acreditar sempre, e buscar o que queremos, mostrando que é possível fazer a diferença.", conta.
No caso da Ilha das Cinzas, região onde nasceu Josi, as mudanças sociais começaram a ocorrer com o diagnóstico do local feito pela Federação de Órgãos para Assistência Social – FASE, em 1997. A partir daí, técnicos da FASE começaram a capacitar a comunidade para se organizar, principalmente os jovens. Dentre eles se destacaram Josi e seu irmão, Almir. “Nos dispusemos a sair da ilha para nos capacitarmos e para ir a eventos em outros lugares”, conta a gestora.
Com a colaboração dos técnicos da FASE, a ATAIC foi criada em 2000, na Ilha das Cinzas, Município de Gurupá, região do Marajó no estado do Pará. Josineide foi a primeira secretária da associação e Almir, o tesoureiro.
Como foi desenvolvido o manejo de camarão
Dentro do ATAIC foi criado o grupo de mulheres da Ilha das Cinzas que se juntaram para construir matapis – armadilhas para capturar camarão. "A atividade começou para as mulheres terem representatividade e buscarem uma forma de ajudar a comunidade”, conta.
Além do prêmio FINEP, o projeto de manejo de camarão ganhou o prêmio promovido pela Fundação Banco do Brasil, pela Região Norte na categoria Meio Ambiente, em 2005. “Esse prêmio deu reconhecimento pra gente. Vimos que o que estávamos fazendo não era em vão, que alguém acreditava em nosso potencial”, afirma Josi.
Depois disso, o manejo de camarão se tornou um pretexto para promover outras melhorias na comunidade e fora dela. “Isso nos encorajou a levar os projetos de melhoria da pesca e organização de outras comunidades no município de Gurupá”, conta a gestora.
Educação é um dos principais diferenciais nas mudanças na Ilha das Cinzas (Foto: Divulgação)Crianças e jovens na escola é uma das principais
mudanças na Ilha das Cinzas (Foto: Divulgação)
Dentre os indicadores de mudanças da comunidade da Ilha das Cinzas, Josineide destaca como principal diferencial a educação. Só para dar uma ideia, entre 1997 e 2011, o nível escolar no local passou  da 4ª série para o Ensino Superior. O número de professores na comunidade aumentou de dois para dez e a quantidade de crianças e adolescentes na escola, que antes eram menos de 30, atualmente é de mais de 150.
“Se a gente não tiver esse ponto fortalecido, não consegue dar continuidade a todos os outros indicadores que temos”, explica Josi. “Informação é o que a educação passa, e assim promove o desenvolvimento dos outros indicadores de mudança.”
É necessária educação para haver mudanças
Educação é um ponto muito importante para Josineide. “Foi muito difícil estudar na minha infância. Não tínhamos prédio escolar, nem carteiras, nem condições de transporte”, conta. As aulas eram realizadas na casa de sua tia, a única professora da região. Para chegar lá, as crianças caminhavam durante horas pelo meio do mato ou iam remando em uma pequena canoa.
“Antes, o meu maior sonho antes era terminar o Ensino Médio. Isso era visto como uma coisa impossível, mas eu sonhava”, lembra. Ela foi mais longe. Participou de várias oficinas de capacitação sobre Gestão de Empreendimentos Associativos e se graduou no Ensino Superior.
Josineide diz que o curso que a fez se interessar por gestão ambiental foi o de Capacitação de Multiplicadores de Políticas Públicas Sustentáveis e Gestão Democrática na Amazônia, promovido pela FASE em Belém (PA) durante todo o ano de 2004.
Pouco depois, Josi entrou no curso de Graduação Tecnológica em Gestão Ambiental, pela Faculdade de Macapá (AP), no qual se formou em 2008. Ela conta que ficava alguns dias em Macapá e depois voltava para a comunidade. “Tinha que convencer meus professores de que o que eu faço é bom para o meio ambiente”, explica.
A gestora prioriza muito a comunidade e, por conta disso, sempre que termina uma parte de seus estudos, volta logo para a Ilha das Cinzas. “Estou querendo voltar a estudar para fazer o mestrado ano que vem”, revela. “Mas se aparecem outros projetos dentro da comunidade que precisam que eu esteja presente, sempre volto”.
Como estão os projetos atuais de Josineide
Josi coordena a Estação Digital, único ponto de Internet na região (Foto: Divulgação)Josi coordena a Estação Digital, único ponto de
Internet na região (Foto: Divulgação)
Josineide Barbosa Malheiros, hoje com 28 anos, é a única mulher no grupo ainda solteira, o que facilita suas viagens para representar a ATAIC em outros lugares. “Eu tenho que abrir mão de estar com a minha mãe e meu pai, o que eu mais gosto de fazer”, lamenta Josi.
Por meio do projeto na Ilha das Cinzas, Josi conhece muita gente que acredita na mudança pela melhoria de um povo. No entanto, ela sente que o Norte ainda é muito esquecido pelo resto do país. “Como ando em muitos municípios, ainda vejo muita pobreza e descaso na região”, desabafa.
"A Ilha das Cinzas se tornou uma escola de novas experiências para todos, que a gente repassa para outros municípios do Marajó. Essa parte de manejo de camarão a gente repassou para outros municípios do Marajó e do estado do Pará.”, diz orgulhosa.
Josi também coordena o projeto Estação Digital, um ponto de Internet que funciona para atender à comunidade da região. “É o único ponto do Norte, que está conseguindo se manter até agora. Já fiz muitos cursos de inclusão digital. Está sendo um desafio muito grande para mim.”, conta.
Com esses e outros projetos sendo desenvolvidos, Josineide diz que chegou onde nunca esperava, mas que só conseguiu com muito esforço. “Isso é o que importa: seguir lutando e acreditando no que eu faço”, conclui.

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